Gestão empresarial: dimensões da gestão, física clássica teoria da relatividade

Volume 42 Nº 1 (2025) REGEM jul 2025
ISSN 2763-8022 (International Standard Serial Number)
por Saulo Carvalho, MSc.
*direitos reservados ©. Texto com liberdade de citação: CARVALHO, S.
O que você irá ler nesse artigo:
ToggleGestão empresarial: dimensões da gestão, física clássica e teoria da relatividade
Proponho uma abordagem conceitual e provocadora entre as dimensões físicas conhecidas e especulativas (segundo a física clássica, a relatividade e a teoria das cordas) e as dimensões de compreensão e atuação na gestão empresarial contemporânea.
Através de uma abordagem nexialista e transdisciplinar, fundamentada em experiência prática, docência e pesquisa científica, traço um paralelismo entre as quatro dimensões comprovadas da física e as estruturas básicas de gestão organizacional, e estendendo, de forma teórica, até a 11ª dimensão como forma de representar os aspectos invisíveis, subjetivos e transformacionais da gestão empresarial, gestão de pessoas e liderança.
Evolução
Na física, o entendimento do universo começou com a noção de dimensões: do ponto unidimensional às complexas estruturas postuladas pela teoria das Cordas. As dimensões explicam desde a forma até o comportamento dos corpos no espaço-tempo.
Da mesma maneira, no campo da gestão empresarial, também lidamos com múltiplas camadas de entendimento e atuação. Muitas vezes invisíveis aos olhos de gestores mais cartesianos.
A gestão empresarial evolui, tal como as teorias científicas que explicam a realidade. Se por séculos operamos em modelos lineares, mecanicistas e hierárquicos, hoje lidamos com redes complexas, dinâmicas sociais, subjetividades humanas e transformações culturais profundas. A analogia com as dimensões físicas não é apenas uma licença poética, mas uma tentativa séria de ampliar a percepção gestora para novas realidades e possibilidades de atuação.
Nos artigos já publicados na REGEM, como “O poder do desenvolvimento de pessoas” (Carvalho, 2021) e “Economia comportamental aplicada: práticas de gestão e desenvolvimento de pessoas” (Carvalho, 2025), defendo que a verdadeira transformação empresarial advém do desenvolvimento humano e da construção de consciências organizacionais mais ampliadas e baseadas em pessoas coloboradoras e pessoas clientes.
Esta proposta, de certa forma, dialoga com as ideias de Senge (1990), Drucker (1999) e Laloux (2014), autores também frequentemente referenciados em minha produção científica.
Gestão empresarial e suas dimensões:
1. Espaço organizacional
A estrutura física e lógica da empresa. Departamentalização, fluxos, ambientes e cultura visível.
2. Tempo gerencial
A forma como decisões, prazos e ciclos operacionais são estruturados. Alinhamento com metas de curto, médio e longo prazo.
3. Energia humana
Motivação, engajamento, esforço e disposição das pessoas. O combustível humano que move a organização.
4. Gravidade da cultura
Força invisível que orienta comportamentos, rituais, políticas e práticas. Pode atrair ou repelir talentos.
As quatro dimensões comprovadas da física e sua analogia com a gestão
1ª Dimensão (largura): estrutura linear (organograma)
Assim como uma linha representa um ponto em movimento, a primeira dimensão da gestão é a estrutura organizacional linear. Hierarquias, funções, departamentos. Uma empresa que opera apenas nessa dimensão é previsível, mas também limitada.
2ª Dimensão (altura): o plano estratégico
A segunda dimensão introduz a largura: planejamento, direções cruzadas, metas organizadas em planos. É onde começa o pensamento estratégico e o alinhamento entre setores. A empresa passa a ser bidimensional.
3ª Dimensão (profundidade): profundidade cultural
Com a profundidade, surge a cultura. A dimensão tridimensional representa o volume organizacional real: comportamentos, valores, clima e identidade. É aqui que a organização ganha corpo e significado.
4ª Dimensão (tempo): tempo e ciclos de mudança
Sem tempo, não há evolução. O tempo gerencial inclui o ciclo de vida organizacional, sazonalidades, curvas de aprendizagem e de maturidade. É o elo entre o planejamento e a capacidade de adaptação.
Dimensões teóricas da física e a gestão expansiva (5ª a 11ª)
5ª Dimensão: potencial invisível ou baixo detectável das pessoas
Corresponde ao conhecimento não explorado: talentos ocultos, criatividade não estimulada, inteligência emocional negligenciada. Uma gestão que acessa essa dimensão promove ambientes de autodescoberta.
Ler também o artigo: Economia comportamental
6ª Dimensão: multirrealidades de liderança
Aqui coexistem estilos de liderança diversos, adaptados a contextos. É a liderança situacional, multigeracional e contextual. O mesmo gestor precisa transitar entre várias “realidades” de condução.
7ª Dimensão: universos culturais paralelos
Cultura declarada vs. cultura praticada. Sedes e filiais com climas distintos. Valores que mudam conforme o contexto. Aqui entra a dissonância organizacional como realidade multiversa.
8ª Dimensão: energia das relações humanas
A sinergia entre pessoas, a segurança psicológica e a empatia são forças invisíveis que amplificam ou sabotam os resultados. É o “campo energético” da convivência organizacional.
9ª Dimensão: inteligência coletiva e consciência expandida
É o surgimento da organização que aprende (Senge, 1990), onde o saber é coletivo, construído, vivo. É o salto para o aprendizado real, integrado e transformacional.
10ª Dimensão: gestão espiralada
Gestão não mais em rede ou pirâmide, mas espiral. A empresa se adapta, desaprende e se reconstrói. É a organização viva, que lida com complexidade com leveza e responsividade.
11ª Dimensão: propósito evolutivo
Como propõe Laloux (2014), o propósito não é declarado, é emergente. A empresa se conecta ao seu papel no mundo e opera com coerência, impactando positivamente seu ecossistema. É a razão superior de existir.
Minha tese: o gestor-líder como explorador de dimensões
Gestores tradicionais operam nas primeiras três dimensões. Gestores mais conscientes trabalham no tempo (4D). Mas os gestores-líderes de vanguarda, humanistas, científicos e transformadores já perceberam que a gestão não é só sobre processos e resultados, mas sobre consciência, energia, relações e propósito.
Assim como a física caminha para explicar o que ainda não vemos, a gestão também deve se abrir para dimensões invisíveis que já afetam a realidade corporativa, mesmo que nem todas as empresas estejam prontas para reconhecê-las.
Enquanto algumas empresas ainda brigam por preço ou market share, outras estão projetando legados, com entregas de valor à sociedade e lucratividade acima da média.
E a diferença está nas dimensões que elas decidiram habitar e operar.
Gestores lineares operam no espaço. Gestores de verdade navegam no espaço-tempo. Gestores-líderes de alta performance exploram outras dimensões.
E você? Pronta (o) para revisitar suas crenças sobre gestão?
Citação a CARVALHO, S.
Saulo Carvalho é Mestre em Gestão e Planejamento (UNITAU) stricto-sensu. Pós-Graduado em Comunicação e Marketing Empresarial (UMESP) lato-sensu, Graduado em Administração de Marketing (UMESP). Admitido em regime especial ao Doutorado sobre Pesquisa Operacional (ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica e Universidade Federal de São Paulo).
Consultor empresarial com atuações no Brasil e América Latina. Ministra disciplinas de Administração, Marketing, Pesquisa e Planejamento Estratégico aos cursos superiores de Administração, Marketing e Engenharia. É pesquisador sobre Gestão, Marketing e Ambiente Econômico. Desenvolve e aplica pesquisas científicas sobre Gestão e Marketing.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Saulo. O poder do desenvolvimento de pessoas. REGEM – Revista de Gestão e Marketing, n. 1, 2021. Acessado em junho de 2025. Disponível em https://ibluemarketing.com.br/revista/o-poder-do-desenvolvimento-de-pessoas/
CARVALHO, Saulo. Economia comportamental aplicada: práticas de gestão e desenvolvimento de pessoas. REGEM – Revista de Gestão e Marketing, n. 1, 2025. Acessado em junho de 2025. https://ibluemarketing.com.br/revista/economia-comportamental-aplicada-praticas-de-gestao-desenvolvimento-de-pessoas/
DRUCKER, Peter. Desafios Gerenciais para o Século XXI. Pioneira Thomson Learning, 1999.
LALOUX, Frederic. Reinventando as Organizações. Ed. Voo, 2014.
SENGE, Peter. A quinta disciplina: arte e prática da organização que aprende. Best Seller, 1990.